A transcendência é inquietação e quietude. Indefinível por natureza, conceito inapreensível por aqueles que de tudo querem a posse.
Em alguns, surge da agonia de o ser humano não se querer sentir só, sobretudo quando não se entende existencialmente com os demais neste mundo; em outros, da necessidade racional de encontrar explicação à explicação última, a fonte do motu continuum deste devir, em que supomos haja no espaço um tempo não circular: em poucos, é arroubo anímico de amor unitivo, consolo do ser e força para prosseguir.
A questão nasce quando se procura que essa via se alcance onde que se supõe estar o denominador comum das crenças, das ideias, da fé, mas que falham no que prometem, ficam aquém do absoluto que se espera, onde a dúvida surge ao primeiro encontro com quem menos se esperava achar ali, em que a hipocrisia envenena a sinceridade da convicção.
O exército dos desiludidos não pára de engrossar, sem amparo num quotidiano em que o materialismo irmana com a vulgaridade, ambas com a grosseria.
Talvez haja uma qualquer forma de nos entendermos sem mais ninguém, a alma recolhida, o espírito expandido, o corpo entregue àquilo para que existe.
Seria uma equação de incógnitas. Mesmo sem templo, mínimo o ritual. A quietude mesmo ante o incompreensível. Sem outro inferno para além daquele que construímos ou em que nos foi dado viver.