O espelho


Trouxe comigo um livro que se chama 1000 Faces de Deus. Iconográfico, tenta o que o judaísmo e o islamismo não consentem: a representação do Inefável. No Velho Testamento ele surge com um espelho, transmitindo a ideia de que somos, humanos, a sua imagem e semelhança. Aparente contradição! Se é imagem, como pode ser mera semelhança? A teologia explica: «A ideia é que pela criação, aquilo que é arquetípico em Deus tornou-se ectípico no homem». A Suprema Perfeição gera, assim, o imperfeito. Com uma formulação destas, a redenção torna-se impossível. O pecado original é, afinal, o do Criador, não o da criatura.