A Pomba e o Dragão


Não é um grande livro mas é um livro de grandes momentos. Augusto de Castro, Embaixador, publicista, director que foi, anos a fio do Diário de Notícias, escreveu sobre Homens e Paisagens que Eu Conheci. O livro saiu pela Livraria Clássica Editora, em 1941, uma livraria ali aos Restauradores, em Lisboa, que ainda conheci, antes de encerrar portas, como tantas outras, onde se encontravam grandes livros e magníficos momentos. 
Fui esta noite buscar o excerto sobre Guerra Junqueiro, essa figura tremenda, excessivo no paganismo, no combate anti-eclesial e converso, enfim, na recta final da vida. Atormentado por dramas de consciência, apaixonado até à exaustão, obsessivo, Augusto de Castro foi encontrá-lo momentos antes de findar o corpo com que figurou nesta terra. 
«E chamando-me para mais perto da poltrona, naquela varanda perto do seu quarto, de onde se via o sol de Lisboa tingir-se no poente do Tejo, o Poeta dizia-me: «Morro crendo em Deus. No Deus dos católicos? Deus é um só».»
Para quê ler mais depois de tudo lido? Dias depois interrompia-se. «A morte foi o preço do seu resgate. A pomba vencera enfim o dragão».

Catolicismo e Cristianismo


Cristianismo, catolicismo, anda tudo sem distinção no espírito de muitos, até de muitos crentes. Um destes dias perguntei sem achar resposta: quando surgiu a Igreja Católica? Com Cristo? Não. Então?
Uma coisa é certa: no próprio Novo Testamento nada se refere de explícito em relação ao que são as traves-mestras do que é hoje tido como o catolicismo: o Papado, a imaculada concepção de Maria, a sua  ascensão aos Céus, a sua natureza de co-redentora e mediadora junto de Deus, a petição aos santos através de orações visando a obtenção de benefícios terrenos, a sucessão apostólica, as ordenanças da Igreja funcionando como sacramentos, o baptismo de bebés inconscientes ante o acto, a confissão auricular de pecados. Do mesmo modo nada é dito quanto ao Purgatório, às indulgências, à equivalência da autoridade da Igreja face ao preceituado nas Escrituras.
Tudo sucedeu depois, muito depois, a Oriente, com a decadência do Império Romano.
O reino de Jesus Cristo, esse, não era o deste mundo. Ele era um humilde solitário, pregando a bondade e o amor. Ele não tinha a infalibilidade papal nem precisou do extermínio pela Inquisição. A sua lição foi a de um suicídio, deixando-se matar, para que a vida renascesse através da Fé.
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