As sete palavras


A filologia tenta resolver problemas abissais da Teologia, legitimando soluções ante a perplexidadedos que sejam mais argutos discípulos da doutrina. Tolentino de Mendonça lembra-o [aqui].
Quais teriam sido as últimas palavras de Cristo? «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» ou, segundo se diz ser, «algumas traduções contemporâneas: «Meu Deus, Meu Deus a que me abandonaste?».
Há entre ambas as formulações um mundo de diferença: no primeiro enunciado, é o ser que é votado ao abandono, no segundo apenas votado, também em abandono, àquela situação.
Ambas abrem a porta à grave dúvida: ali, um Deus cruel, abandonando o próprio Filho, aqui um Deus impiedoso, Deus ante um Cristo que não esperaria nem desejaria aquele fim cruel.
Reflexão herética, surgida da hermenêutica, esta. Mas impossível em honradez de se não colocar.
É o problema das religiões reveladas no Verbo ficarem à mercê dos seus exegetas.
A Fé pela comunhão directa com o Indizível, evita estas mediações humanas e suas poderosas insuficiências.