A criança de ouro

Penso que ontem ainda consegui ler o primeiro capítulo da biografia do Dalai Lama, de Sabine Wienand, cuja edição original data de 2005 e foi traduzida para português em 2011.
O mundo não pára de surpreender. A obra relata a busca do VIX Dalai-Lama, após a morte do seu antecessor, Thupten Gyatso, em 1933, levada a cabo a partir de 1935, por uma comissão presidida pelo regente Reting Rinpoche V.
Lendo os sinais que poderiam orientar a escolha, divergindo entre várias crianças que aparentavam reunir os requisitos, acabou por se convergir para uma, Lhamo Dhondup, que paulatinamente venceu as várias provas simbólicas, um rapaz de Taktser.
Tudo segundo critérios de espiritualidade, tudo para que o budismo encontrasse pela reencarnação, que é seu fundamento a linha sucessória justa.
Mas eis quando a narrativa nos surpreende: «durante o período de quezílias devido ao pagamento do resgate, o pequeno Lhamo Dhondup, de apenas 3 anos, viveu no mosteiro de Kumbum». Na verdade Ma Bufeng, o governador chinês da província, «exigia muito dinheiro pela criança de ouro. O resgate já pago de cem mil dólares prateados chineses não eram suficientes. Lhasa oi confrontada com um pagamento adicional de 300 mil dólares. A segunda transferência deveria realizar-se com a ajuda de uma caravana de peregrinos muçulmanos chineses, que viajavam para Meca. Levaram não apenas as moedas de prata a Ma Bufeng mas funcionaram também como escolta do herdeiro para Amdo, para receber a distinção de Dalai Lama».
Comentando o livro, que apresenta, escreve José Cutileir, que com o XIV Dalai Lama «os tibetanos tiveram muita sorte e o resto da humanidade também». Paga a preço de prata, fiquei a saber, resgatado à China..