A Pomba e o Dragão


Não é um grande livro mas é um livro de grandes momentos. Augusto de Castro, Embaixador, publicista, director que foi, anos a fio do Diário de Notícias, escreveu sobre Homens e Paisagens que Eu Conheci. O livro saiu pela Livraria Clássica Editora, em 1941, uma livraria ali aos Restauradores, em Lisboa, que ainda conheci, antes de encerrar portas, como tantas outras, onde se encontravam grandes livros e magníficos momentos. 
Fui esta noite buscar o excerto sobre Guerra Junqueiro, essa figura tremenda, excessivo no paganismo, no combate anti-eclesial e converso, enfim, na recta final da vida. Atormentado por dramas de consciência, apaixonado até à exaustão, obsessivo, Augusto de Castro foi encontrá-lo momentos antes de findar o corpo com que figurou nesta terra. 
«E chamando-me para mais perto da poltrona, naquela varanda perto do seu quarto, de onde se via o sol de Lisboa tingir-se no poente do Tejo, o Poeta dizia-me: «Morro crendo em Deus. No Deus dos católicos? Deus é um só».»
Para quê ler mais depois de tudo lido? Dias depois interrompia-se. «A morte foi o preço do seu resgate. A pomba vencera enfim o dragão».