Magick

Houve um tempo em que interessei pela obra do "mago e cabalista" - como é geralmente chamado - Alesteir Crowley. Creio que nessa altura ninguém falava nele por causa do encontro que tivera em Lisboa com o poeta Fernando Pessoa, cultor do esotérico, e com quem se correspondera por causa de um erro que aquele cometera numa carta astrológica. Estive hoje a olhar para os livros dele e sobre ele, por causa de um livro que perigosamente ainda penso escrever.
Hoje a criatura, que sempre foi controversa e cultivou o insólito - a si próprio se chamando a Besta 666, no fundo o nome do sinal do Fim dos Tempos, no Apocalipse - tornou-se uma figura circense, entre o satânico e o depravado.
Os fundamentos da sua existência resultam da loja The Golden Dawn, uma fraternidade espiritualista de matriz rosacruciano, da qual foram membros tantos como o poeta Yeats. Desviou-se, porém, para encontrar a sua própria via, e a Lei da liberdade total para a felicidade infinita.
Mau grado tudo quanto o degradou aos olhos dos polícias de costumes, e a Magia Sexualis tornou-se nele êxtase, ritual e perdição, ficou o incomparável paradoxo: génio ou charlatão, ainda hoje é a pergunta sobre a superficialidade da sua existência. 
Nisso triunfou, o mistério sobre a evidência.