Além!


Busca-se, primeiro, algo mais do que a realidade supondo-a lógica e bela e tendo de ser, por isso, uma outra coisa. E supõe-se haver mais mundos.
Procura-se então a causa para o que está, imaginando-se ter de haver princípio para aquilo que pressupomos finito. E fantasia-se a criação com um Criador.
Um dia o Homem pára e hesita. Constata que o fim que pressupõe como facto é apenas o seu próprio fim, ser perecível como indivíduo, talvez precário como espécie, provisório enquanto planeta. E extasia-se então ante o Cosmos, logo de imediato apenas pela Via Láctea, o magnífico rio astral de que é minúscula poeira, porque subsistirá. E acredita, iludido, na eternidade.
A sua pequenez conhece-se por tentar atingir o inatingível, ver em tudo a personificação do que é. Para ele não há Deus que não seja um ser antiquíssimo, com Filho humano eternamente a morrer por nossa causa e uma pomba, Espírito puro e santo, que sopra onde quer. 
Tudo o que não seja contável como lenda, tudo o que não seja misterioso porque mistério, tudo quanto não tenha doutrina, cânone, igreja, não lhe é possível, porque não há mais inteligência do que para isso. 
O próprio Verbo se tornou palavra e livro e este sagrado.
Raquítica criatura, defectiva, carapaça feroz, soterrado ao peso daquilo em que te tornaste, quando te capacitarás do que é, sem estar, o verdadeiramente Além?